O cristão diante do sofrimento

Em primeiro lugar cumpre a quem tem fé que ostente a mesma atitude de Jesus que assim se dirigiu ao Pai no Horto das Oliveiras: “Pai, se possível, passe este cálice; mas faça-se a tua vontade e não a minha” (Mc 14,26). Diante do sofrimento são possíveis estas atitudes: medo, revolta, resignação, aceitação reparadora, adesão redentora. O medo e a revolta indicam falta de fé.

As outras atitudes revelam uma fé amadurecida. Resignação, ou seja, aceitação do sofrimento pacientemente é prova de fé. Musset dizia: “O homem é um aprendiz, a dor o seu mestre, e ninguém se conhece enquanto não sofreu”. O sofrimento aceito resignadamente mostra a grandeza do cristão. Eis as palavras de São Paulo: “... mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, a paciência a prova e a prova a esperança e a esperança não traz engano ... “ ( Rm 5 3-5).

O cristão afasta todo estoicismo, bem com todo dolorismo mórbido, mas, se a cruz se torna pesada, ele a aceita generosamente, resignadamente com Jesus, em reparação das próprias faltas e dos pecados que se cometem mundo todo, aderindo ao Mestre divino crucificado numa cruz. Tal epígono de Cristo vive as palavras de Santa Tereza: “Sofrer passa, ter sofrido permanece eternamente”! Paul Claudel com razão afirmou: “Feliz daquele que sofre e sabe para que sofre”!

É que “há permutas de amor com Deus que sós se fazem sobre a cruz”, como asseverou Elisabeth da Trindade. Para quem tem fé o sofrimento leva, de fato, a uma profunda união com Cristo. São Paulo afirmou: “Eu só quero conhecer Cristo e Cristo crucificado”! (1 Cor 2,2). Por outro lado, nada purifica tanto o cristão como a aceitação humilde das provações que Deus envia. Enquanto dura a dor física ou moral o fiel é chamado a exercer um papel propiciatória do mais alto valor para o sistema eclesial. Há muitos que a vida toda passam por terríveis aflições, mas, com a proteção de Deus, tudo superam.

D. Oscar de Oliveira, sábio Arcebispo de Mariana, escreveu, certa feita, no jornal O ARQUIDIOCESANO um belíssimo artigo sob a epígrafe “Bodas de Prata de Sofrimento”. Um jovem de São Domingos do Prata que havia ficado paraplégico quis comemorar seus vinte e cinco anos de padecimentos com uma Missa, rodeado de muitos seus beneficiários. É que se formava, por vezes, até uma fila em frente de sua residência e eram pessoas a pedirem que ele oferecesse uma parte de seu dia ou pela conversão de um parente, ou pela cura de determinado doente, enfim, pelas mais nobres intenções.

Chevrier num instante de pulcra inspiração declarou: “Instruem-se as almas pela palavra, mas se salvam pelo sofrimento”! A verdade é que Jesus não recusou nunca a seus melhores amigos a riqueza imensa que a cruz retém em si. Ele foi taxativo com Ananias sobre Paulo que acabava de se converter: “Eu lhe mostrarei, em breve, os sofrimentos que terá que padecer em meu nome” (Atos 9,16).

Não há dúvida: o instante do sofrimento é um teste da fé do autêntico batizado que encontra no Coração de Jesus todo lenitivo. Cristo não mente e ele prometeu: “ Eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Acrescentou: “Meu jugo é suave, o meu peso é leve”(Mt 11, 29). Portanto, nada de dramatizar o sofrimento, mas empregá-lo para a redenção do mundo com a força do Alto, devendo o batizado repetir sempre: “Senhor tua graça me basta e é ela que eu imploro”!

(Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho)