A Fé em Deus

O conceito de Deus vai muito além do mundo racional da ciência. Na verdade, só podemos conhecê-Lo realmente através da experiência mística. Por T. Byram Karasu (*)

A mente percebe o mundo com os cinco sentidos do corpo, vive e gera valores e julgamentos baseados no domínio do tato, da audição, do gosto, do olfato e da visão. No Evangelho de Tomé, Jesus diz que seu papel na vida era afastar os discípulos do paradigma dos sentidos:

Dar-lhes-ei o que nenhum olho já viu e o que nenhum ouvido escutou, o que nenhuma mão tocou e o que nunca ocorreu ao pensamento humano.

O que se esconde por trás do discurso científico baseado nos cinco sentidos e em uma mente? É um poder que está fora das fronteiras da ciência, além do entendimento da mente humana, um poder que pode abarcar tudo. Aqueles que atribuem aos pesquisadores a única fonte da verdade estão se privando desse poder. Os cientistas são limitados por seu papel científico. Afinal, deles se exige apenas que coletem dados sobre certo assunto e construam hipóteses para explicá-lo. No entanto, os dados que se dispõem a explorar podem, na melhor das hipóteses, representar apenas uma parte da realidade. Eis algo típico da pesquisa científica: ela não é planejada para examinar todas as formas maravilhosas e deslumbrantes da experiência humana. A ciência só aceita o que pode validar. Não pode explicar tudo. A idéia esquiva de Deus, em contraste, tem a extraordinária capacidade de explicar tudo: abrange não só o fenômeno mensurável, mas aquele sentido pessoal e subliminarmente, que pode até incluir revelações só comunicadas através de canais espirituais ou místicos. Diferentemente da ciência, o conceito de Deus se estende além do mundo tangível dos cientistas.

Não se pode encontrar Deus com a razão da mente. Confiar na contemplação nos leva a ele. Eu me arrepiei quando li a história que se segue, contada por Noah benShea:

Um homem dirige seu carro rápido demais em um perigoso desfiladeiro entre as montanhas. O carro cai no precipício, e o homem mal e mal sobrevive se agarrando a um monte de raízes que crescem na encosta da montanha. Balançando-se no espaço, o homem roga a Deus: “Por favor, me ajude. Vou mudar para sempre. Farei qualquer coisa. Por favor, me ajude.”

Deus pergunta para o homem: “Você quer a minha ajuda?”

“Sim”, diz o homem. “Qualquer coisa. Qualquer coisa!”

“Vou ajudá-lo, sob uma condição”, diz a voz de Deus.

“Qualquer coisa.”

“Esta bem”, diz Deus. “Confie em mim e se solte.”

A fé não requer entendimento; na verdade, é até corroída por ele. A fé só precisa de crentes devotos e confiantes; precisa de compromisso firme e fidelidade. A fé é gerada não pelo conhecimento, mas pelo desconhecimento. O conhecimento de Deus não é conhecimento. É uma experiência mística.

A Ausência Física de Deus É a Prova de Sua Existência – No domínio estelar, a luz da estrela mais remota chega por último, e, até a hora em que chega, os seres humanos negam que ela exista. Podemos perguntar: “Quantos séculos um espírito requer para ser compreendido?” Parafraseando Isaac Newton, somos como crianças brincando na praia. De vez em quando achamos uma pedrinha mais lisa ou uma mais bonita do que as outras, enquanto o oceano maior e tudo que ele contém permanece escondido para nós. Nenhuma criança pode compreender esse oceano imenso, as galáxias e além delas, e todas as explicações científicas contraditórias de como tudo aconteceu. A grande explosão (Big Bang) para uma criança é exatamente o que diz ser: uma explosão. Não que signifique muito mais para o restante de nós, adultos.

Toda religião contém contradições e afirmações impossíveis, o que são, na realidade, a essência dela. Como testemunhas disso, repetimos a confissão de Tertúlio: “E o filho de Deus está morto, o que é digno de crença porque é absurdo. E, depois de enterrado, ele se levantou outra vez, o que é certo porque impossível.”

Deus é uma coisa visível não por ele mesmo, mas através de sua criação, do mesmo jeito que átomos não são “coisas” em sua forma atômica, mas um grande número deles colocados juntos repentinamente se torna visível e objeto reconhecível.

Todas as coisas e seres no universo são efeitos de um poder ubíquo de onde se originam, o qual lhes dá suporte e manutenção durante o período em que se manifestam – e para o qual devem finalmente voltar. Essa atribuição de poder a uma força desconhecida e irreconhecível é a crença em Deus.

(*) O texto é um capítulo do livro A Arte da Serenidade, de T. Byram Karasu, lançado pela Editora Arx. Tradução: Irene Maria da Fonseca e Ana Puccini Lara.